Desde que estreou, The Boys foi considerada uma das melhores adaptações de histórias em quadrinhos já vistas. No entanto, em sua 4ª temporada, a série vive o que podemos chamar de “crise no relacionamento com seu público”. O motivo? A grande carga política assumida pela trama e o viés fascista dado ao seu vilão, Capitão Pátria (Antony Starr). Mas, será que isso tornou a série do Prime Video ruim? Vamos destrinchar a seguir no review:
Política para quem precisa de política
Essencialmente, o novo ano de The Boys apresenta os Estados Unidos divididos. De um lado, os apoiadores de Pátria são identificados com a ideologia de ultradireita. Do outro, Luz-Estrela (Annie January) lidera a esquerda. Na prática, a série busca fazer uma sátira com a realidade, recriando o conflito entre “patriotas” e “canceladores”.
Se isso foi motivo de decepção para parte da audiência, podemos dizer que a produção deixava claro que tomaria esse caminho, seja pelo final da 3ª temporada – em que Capitão Pátria assassina uma pessoa e é aplaudido por uma multidão – ou por toda sua trajetória associada ao fascismo. Namorar uma nazista, definitivamente, foi uma bandeira vermelha.
Além disso, desde o 1º episódio da primeira temporada, a intenção da Vought em aprovar o uso de Supes para forças de segurança já denunciava uma intenção de golpe. Afinal, agentes com superpoderes são capazes de subjugar povos e governos. Porém, o que rolou foi uma virada de mesa, em que o conglomerado acabou tomado pelos heróis.
Ou seja, política vinho sendo núcleo do enredo desde o começo.
Rumos narrativos: a kryptonita da temporada
O que é fato, no entanto, é que este quarto ano comete erros em caminhos que decide seguir e no ritmo com que faz isso. A ameaça que Victoria Neuman (Claudia Doumit) representa para o presidente Robert Singer (Jim Beaver) não engaja, mesmo quando qualquer atentado à vida de Singer coloque uma Supe no cargo máximo da Casa Branca. Com isso, The Boys não falha em conceito (tanto que “previu” o ataque que tomou conta dos noticiários nesta semana), mas sim no foco da trama.
Outro exemplo disso é o romance de Francês (Tomer Capone) e Kimiko (Karen Fukuhara), num drama que ganha muito tempo, mas com desenvolvimento arrastado – e não muito necessário, tendo em vista o que está em jogo no quadro geral.
Principais acertos da temporada
Ver Billy Bruto (Karl Urban) lidando com uma infecção causada pelo Composto V entretém, especialmente por isso resultar na visão problemática de Joe Kessler (Jeffrey Dean Morgan), um eco de seu passado militar. Capitão Pátria surtando com sua própria humanidade causou impacto, e poderia ser um arco mais explorado.
Contudo, o conflito interno de Ryan (Cameron Crovetti), filho de Pátria com a falecida mulher de Bruto, entre seguir a trilha do pai ou permanecer com os ensinamentos da mãe foi o destaque, nos fazendo torcer. Enquanto isso, o núcleo familiar de Hughie (Jack Quaid) se mostra um acerto, pois dá profundidade e mais independência ao personagem apresentado como protagonista.
Por fim, destaque para as participações de Espoleta (Valorie Curry), Irmã Sábia (Susan Heyward) e Tek Knight (Derek Wilson). Cada um deles representa o que há de pior na sociedade idealizada por Pátria. Espoleta é a rainha das fake news, à medida que Sábia utiliza sua inteligência para manipular as massas e os políticos. Knight, por sua vez, é um herdeiro bilionário, que oferece exatamente isso: bolsos cheios de grana – numa paródia do Batman.
No fim das contas, The Boys prova que tem repertório para divertir com seu humor sem limites e personagens bizarramente carismáticos. Só falta saber o que fazer com isso.