Os Asilos de Madalena
Seguindo a nossa cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, assistimos ao filme Pequenas Coisas como Estas. O filme tem Cillian Murphy (Oppenheimer e Peaky Blinders) como protagonista e é adaptação de um livro de mesmo nome.
Na Irlanda, do século XVIII aos anos 1990, existiam asilos católicos chamados de “Asilos de Madalena”, ou “Lavanderias de Madalenas”, em homenagem a Maria Madalena, cortesã da Bíblia. Estes locais, mantidos por freiras, tinham o objetivo de aprisionar mulheres “problemáticas”, que se desvirtuavam dos preceitos morais religiosos.
Uma jovem adolescente ou mulher solteira engravidava? A família mandava para morar em um desses asilos. Lá ficavam contra suas vontades. Eram abusadas, maltratadas, e separadas de seus filhos. Estes asilos macabros marcaram a história da Irlanda, e chamam a atenção de estudiosos até hoje.
Pequenas Coisas como Estas
Essa é a premissa base de Pequenas Coisas como Estas. Na trama, Cillian Murphy interpreta Bill Furlong, um pai de família que dá duro trabalhando com transporte de carvão. Quando Bill nota que o asilo das freiras não é tão bondoso quanto parece, se vê em um grande dilema.
O filme retrata o asilo como tendo bastante influência na cidade de Bill, o que tornava ainda mais difícil escolher entre tomar ou não uma atitude. Além disso, todas as pessoas ao redor do personagem o aconselham a não agir, pois ir contra a igreja arruinaria sua vida.
O começo do longa-metragem é meio lento, mas aos poucos adquire um bom ritmo. O cuidado com a direção é notável, conseguindo trazer muito bem essa sensação de sufoco por parte do personagem. Conforme a história se desenrola, o público se sente como se estivesse encurralado contra uma parede.
A atuação de Murphy segue sem defeitos: um personagem traumatizado pelo seu passado. E, pouco a pouco, esse passado vai se revelando. Desta forma, o espectador vai adentrando na mente do protagonista, e seus motivos vão se tornando cada vez mais transparentes – mas sem spoilers por aqui.
Pequenas Coisas como Estas pode até não ser o melhor ou mais impactante trabalho de Murphy, mas consegue conquistar a atenção do público com um retrato histórico tenso, poderoso e muito impactante. Ao mesmo tempo, cria uma pulga atrás da orelha do espectador, fazendo-o refletir e se questionar: afinal, quem de nós arriscaria tudo para salvar alguém?
