Delírio a Dois: Coringa erra o passo em drama passional

Oficialmente intitulado Coringa: Delírio a Dois, o longa conta com os retornos do diretor Todd Phillips e do ator Joaquin Phoenix
Foto: Warner Bros. Pictures

O primeiro filme do Coringa fez sucesso por deixar a interpretação na conta do público. A produção se concentrava em um vilão, caso o título não tenha deixado claro, mas o apresentava como o resultado de uma infância repleta de abusos e, posteriormente, do descaso da sociedade e dos serviços públicos. Porém, “Coringa 2” chega aos cinemas nesta quinta-feira (3) com uma atenção especial em descrevê-lo como uma doença que assola Gotham, não como um sintoma de seus problemas.

Oficialmente intitulado Coringa: Delírio a Dois, o longa conta com os retornos do diretor Todd Phillips e do ator Joaquin Phoenix – dupla que causou impacto no lançamento de 2019 –, mas, aparentemente com total liberdade criativa, aposta em novo formato: o de um “musical”. Esta é a deixa para que Lady Gaga (Nasce Uma Estrela) assuma o papel de Lee Quinzel – você pode chamá-la de Arlequina –, interesse amoroso que Arthur Fleck (Phoenix) conhece no hospital psiquiátrico Arkham.

O que funciona em Coringa: Delírio a Dois

Na história que Phillips assina novamente com Scott Silver, Fleck está confinado no Arkham, em tratamento, na expectativa de estar apto para julgamento. Sua advogada, interpretada por Catherine Keener (Modern Love), acredita piamente que seu cliente é vítima de um transtorno de dupla personalidade. Isso pode inocentar Arthur e transformar o Coringa em uma persona isolada e responsável por seus atos.

Como um documentário, o filme acompanha a rotina do personagem, do despertar nada gentil pelos guardas ao banho de sol. A cada provocação ou agressão que Arthur sofre, fica a expectativa de que o lobo pode deixar a pele de cordeiro para atacar. Essa tensão funciona e o longa sabe disso, brincando de pique-esconde quase até os momentos finais de suas 2h18 de duração.

A presença de Lee Quinzel começa sendo ponto positivo, uma vez que, se um vilão garante o entretenimento, o encontro com seu par é mais do que promissor. Na cena em que o casal quase escapa do Arkham, podemos presenciar o ápice da química dessas versões de Coringa e Arlequina. Até aqui, fica a dúvida se o “delírio a dois” ocorre entre Arthur Fleck e o “alter ego Coringa” ou se entre o rapaz e a personagem de Gaga.

O que NÃO funciona

A premissa interessante passa a ser quebrada por três caminhos que a produção decide seguir. A primeira questão é o musical, que basicamente serve para sinalizar o final de um capítulo e o começo de outro. Embora bem realizadas, estas sequências acabam marcando presença de maneira insistente e em momentos nos quais você só quer que a trama avance.

O segundo problema está em Lee Quinzel, que não apresenta qualquer semelhança com a figura dos quadrinhos nem esboça o carisma da versão de Margot Robbie. É como se Lady Gaga estivesse interpretando e cantando… Lady Gaga. Além disso, em vez representar um mal tão perigoso quanto Fleck, ela atua como uma espécie de gatilho para torná-lo cada vez mais dependente, carente, e distante do terror inicial.

Por fim, a terceira falha de Coringa: Delírio a Dois. A obra coloca o vilão conhecido como palhaço do crime frente a frente com o promotor de justiça Harvey Dent (Harry Lawtey) num tribunal. Confronto do século, certo? Errado! Sem brio, Dent poderia trazer algo de seu Duas-Caras, mas é apenas uma participação gratuita. Entre altos e baixos, os momentos de conclusão do longa enfraquecem o protagonista sem bancar os acontecimentos do anterior ou cravar qualquer hipótese apontada no julgamento. São oportunidades que não deveriam ser desperdiçadas.

Por tudo isso, a sensação é de que foram feitos dois filmes para se chegar a nenhuma conclusão sobre a origem do Coringa.

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