Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é o game que você não sabia que precisava

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess
Foto: Capcom

Vez ou outra, somos presenteados com jogos que trazem um estilo diferente e que abrem nossos horizontes na maneira de jogar. Em uma indústria tão enlatada e industrializada, é bom ter essa quebra de ritmo. Nesta geração, tivemos Hi-Fi RUSH e Astrobot como bons exemplos dessas mudanças de paradigma. Mas em 2024, a marca da vez é Kunitsu-Gami: Path of the Goddess – o game que você não sabia que precisava jogar.

Com toda sua originalidade, mitologia e polimento, a Capcom trouxe um título forte que definitivamente vai competir e, muitas vezes, ganhar premiações como The Game Awards ou Bafta. Mas o que tem de tão especial neste verdadeiro emaranhado de Tower Defense, RTS, estratégia e ação?

Premissa

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess se passa no Monte Kafuku, que abriga 11 aldeias onde humanos, animais e a natureza conviviam em comunhão. Cada povoado recebeu uma máscara dos deuses ancestrais, que lhe deram profissões e classes das mais diversas. A situação começa a se complicar quando os aldeões cobiçam mais da montanha e a ganância toma conta das pessoas. Toda essa ingratidão por parte do homem acaba por despertar os súditos da Deusa da Montanha maculada, os Coléricos.

Além de espalhar maculação por toda a montanha e animais, destruindo vilas e aprisionando os humanos que viviam lá, a Deusa da Montanha roubou todas as máscaras dadas aos moradores de Kafuku, roubando também suas habilidades.

Para reverter todo esse caos e expurgar os Coléricos para sempre, nosso protagonista Soh e a sacerdotisa Yoshiro precisam purificar todo o monte e trazer a paz ao local novamente.

Apesar da premissa um tanto básica, Kunitsu-Gami: Path of the Goddess tem um forte folclore inspirado nas tradições japonesas antigas e um alto grau de profundidade e complexidade.

Essa inspiração artística vai desde as danças de Yoshiro para purificar os portais Torii, até o HUD do game, vestimentas e, claro, os Coléricos. Todas essas raízes e tradições serão nossa espinha dorsal aqui, pois estão presentes em todo o jogo e garantem a imersão e originalidade que o colocam em um pedestal.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess
Foto: Capcom

O início

Para reverter toda a maldição, Soh e Yoshiro passam de vila em vila, em um sistema de fases (nada de mundo aberto por aqui). O objetivo principal é purificar os portões Torii em cada vilarejo, que nada mais são que os spawns dos Coléricos.

Após purificá-los, podemos prosseguir nas fases, enquanto restauramos as aldeias em que já passamos. Algumas dessas fases também contam com chefes épicos, os mesmos que roubaram as máscaras, e temos que derrotá-los para trazer os poderes dos aldeões de volta.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess funciona basicamente em dois tempos.

De dia, traçamos o caminho para Yoshiro purificar a área enquanto recrutamos aldeões, escolhemos suas profissões, coletamos recursos, purificamos animais e montamos armadilhas e estruturas para impedir os Coléricos.

Já de noite, os portões Torii se abrem e os mais diversos tipos de inimigos surgem para tentar matar Yoshiro. Neste período, nós, como Soh, podemos usar habilidades e mobilizar aldeões para destruir os monstros. Para o combate, desfrutamos inicialmente de um estilo de luta chamado Dança Oka, que mais parece as respirações de Demon Slayer, com todo um ‘efeito elemental’ em nossos movimentos.

A arte no combate

No início do jogo temos um pequeno leque de possibilidades quando falamos em combate. Ataques fracos e fortes já estão à nossa disposição logo de cara e podem ser combinados entre si para criar combos mais fortes. Infelizmente, não temos tantas combinações entre eles, como em alguns Hack n’ Slash, por exemplo. A defesa e a esquiva também são os primeiros fundamentos do pacote.

Com o tempo, vamos ganhando acesso a diversos itens e novas habilidades, como as Guardas-Tsuba, que concedem ataques mais fortes ou estratégicos, tal como um ‘ultimate’. Elas recarregam com o tempo e no fim da jornada podemos ter até três delas em cada fase.

Os Talismãs Mazo são outro vértice que coloca as coisas a um nível ainda mais profundo. Eles são uma série de itens passivos que possuem diversas vantagens e, às vezes, até desvantagens. Podem ser equipados ao purificar uma vila, assim como as Guardas-Tsuba, e podem alterar qualquer elemento do jogo, seja aldeões, Yoshiro, Soh, armadilhas, animais ou mesmo no combate.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess
Foto: Capcom | Soh usando cosméticos de Okami – capturado no Modo Foto

Terminei Kunitsu-Gami com aproximadamente 30 horas, tentando explorar o máximo que o jogo tinha a oferecer até chegar nos créditos, mas só consegui acesso a essas habilidades adicionais com pouco mais de 13 horas. Elas seriam úteis em muitos momentos, e apesar de embasar a história contada, acho que foi um equívoco colocá-las tão para frente.

No meio da jornada, após derrotarmos certo chefe, temos acesso a outras habilidades de Soh, que são extremamente úteis. Parry, Defesa Perfeita, contra-ataque, arquearia e até outro estilo de combate fazem parte desse conjunto. Contudo, a crítica fica para a altura em que desbloqueamos tais técnicas.

Essa junção básica, porém dinâmica, coloca o fator combate do game lá no alto e bota em prática a principal característica de Kunitsu-Gami: a estratégia.

Estratégia é a chave

Basicamente, temos que usar estratégia em tudo, seja utilizando o cenário a nosso favor, nas tropas, habilidades e até mesmo nos chefes. Não pense que dominar apenas o combate vai te fazer vencer o resto do jogo com facilidade. Kunitsu-Gami vai se reinventando de tempos em tempos, saindo da monotonia e mesmice, deixando o jogador sempre em alerta para novidades indesejadas ou upgrades que podem virar a mesa.

Apesar de não parecer, essa jornada lançada pela Capcom tem uma curva de dificuldade bem elevada, sendo um tanto quanto desafiadora.

Não pense que dominar apenas o combate vai te fazer vencer o resto do jogo com facilidade

Há fases em cavernas, por exemplo, em que precisamos designar aldeões para que acendam tochas no ambiente escuro. Isso permitirá que possamos ver de onde estão os inimigos, e nos programar para detê-los. Em outros níveis, Yoshiro está enfraquecida e não consegue se mover e, para passar para a próxima etapa, precisamos juntar os recursos suficientes para prosseguir.

Via de regra, podemos recrutar aldeões em todas as fases. O que não é o caso do Cemitério Muenzuka, onde Soh precisa parar as hordas sozinho, somente com auxílio de armadilhas, seus itens e habilidades.

Gerir recursos é essencial

A gestão de recursos é outra coisa importante. Para recrutar aldeões precisamos de alguns cristais, e cada tipo de aldeão (arqueiros, lenhadores, lutadores de sumô, xamãs, etc.) possui um valor para ser recrutado. Os jogadores também precisam ficar de olho nas provisões, que são basicamente as poções do game, para Soh e os aldeões. Ambos os recursos podem ser encontrados durante a exploração de dia, seja purificando as vilas ou animais, quebrando vasos e até de noite matando Coléricos.

Estamos falando de um jogo com mecânicas de Tower Defense, afinal. É de se esperar que tenhamos uma gama de profissões que podemos atribuir aos aldeões recrutados. Com os recursos obtidos nas fases e em alguns desafios podemos aumentar os níveis de nossos aliados, desbloqueando ataques especiais, aumentando alcance, etc.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess
Foto: Capcom

Os inimigos

Voltando para outro lado importante, os Coléricos são um dos pontos mais altos de todo o jogo. Não espere mesmice com a diversidade dos inimigos, na verdade em qualquer outra mecânica do jogo. Com inimigos pequenos, médios e grandes, temos dezenas deles ao cair da noite tentando pegar Yoshiro de qualquer forma.

Sério, a diversidade desses inimigos, que vão sendo introduzidos aos poucos, é quase assustadora. Há os soldados pequenos, os voadores, os atiradores, os que dão buffs para outros Coléricos, os grandes, enfim, uma boa quantidade aqui.

Os chefões, em particular, têm essa carga de diversidade maximizada. Com o passar das fases, eles vão ficando cada vez mais fortes, cada um com sua peculiaridade e forma de se combater. Claro que temos ajuda dos aldeões durante as batalhas, seja para avançar nos inimigos, seja para defender Yoshiro.

A trilha também faz um grande trabalho aqui, que apesar de ser morna no restante do jogo, se torna essencial para o pacote ficar mais completo.

Outro desagrado que posso apontar é a luta final do jogo. Ela é complicada, claro, mas não carrega toda essa “epicidade” que falamos anteriormente. Esperávamos bem mais do último boss do game, seja em combate ou mesmo no design, que é legal, mas acaba passando despercebido pelos outros monstros que conhecemos no caminho.

Devo admitir que falhei umas duas vezes antes de finalmente ver os créditos, mas me acostumei bem rápido com os padrões do chefão. Ele possui algumas novidades, mas nada muito catastrófico, vai por mim.

Cenários e arte

Como disse anteriormente, Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é um jogo baseado em tradições japonesas antigas, e tenho que dizer que isso é colocado de forma perfeita na arte, cenário e design no geral. O jogo é de encher os olhos, não por ser super realista, mas por trazer um estilo muito bonito e único com efeitos deslumbrantes e cenários característicos da época.

O game é um show quando falamos de ambientação e imersão. Acho muito positivo quando o jogo traz ou cria uma cultura, folclore ou misticismo. Isso coloca um peso maior quando falamos de originalidade, e pode ter certeza que a Capcom arrasou nisso.

Os menus e a interface de Kunitsu-Gami seguem esse estilo. O mapa é um pergaminho, o relógio que marca o passar do dia é uma bacia com água, símbolos e ideogramas, tudo traz essa cultura à tona. No design de personagens e inimigos, também vemos esses traços. Os Coléricos são repugnantes e sórdidos, mas também possuem designs complexos e bem trabalhados. O mesmo vale para os aldeões que recrutamos e até mesmo para Soh.

Não estamos falando aqui de Alan Wake 2, Hellblade II ou Red Dead Redemption, mas sim de um jogo que busca inovar com um estilo artístico à altura do realismo que tanto estamos cansados de ver em títulos mais recentes.

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess
Foto: Capcom | Yoshiro capturada em Modo Foto

Extras

Há outras particularidades que acabam por tornar Kunitsu-Gami uma experiência perfeita. Atenção para os fãs do bom e velho Modo Foto: você não passará vontade aqui. O modo permite capturar os melhores momentos em sua jornada de purificação, com algumas configurações de foco, FOV, filtros e outros detalhes.

Para quem quer ainda mais desafios e prolongar sua passagem pelo Monte Kafuku, após finalizar o jogo pela primeira vez, os jogadores têm acesso ao New Game+. Com mais inimigos, mais dificuldade e mais desafios, o modo coloca em xeque as habilidades de qualquer um que tentar os famigerados 100G, 100% ou Platina, dependendo do seu lado da grama.

Falando em “completismo”, saiba que a dose de desafio aqui é bem complicada. Para fazer tudo que o jogo tem a oferecer, é necessário muito investimento, já que é necessário zerar o New Game+ – o jogo padrão leva cerca de 15 a 20 horas para ser finalizado.

Quem não gosta de interação com animais fofos em videogames? Ao reconstruir vilas, podemos interagir com diversos animais, e por que não fazer uso do Modo Foto para acrescentar pontos de fofura? Cães, gatos, galinhas, bois e faisões mostram que os humanos não estão sozinhos.

Veredito

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é o que chamamos de pacote de viagem completo. Café, almoço e janta, inovando na medida, sem tirar nem por, sem exageros, mas também sem escassez. O jogo é bem detalhado em muitos aspectos, com muita coisa a se fazer e rendendo dezenas de horas de gameplay.

Apesar de sua curva de dificuldade um pouco íngreme em certo momento, sua complexidade o torna divertido e instigante ao passo que temos que nos reinventar, usando uma gama de habilidades, opções e estratégias diferentes para purificar Kafuku, tornando-o viciante e difícil de largar.

Muitas vezes nos sentimos como um Caçador de Oni de Demon Slayer. Os golpes e coreografias de Soh deixam tudo mais artístico e satisfatório, apoiado pelas Guardas-Tsuba. As lutas contra os chefes são épicas e dinâmicas, exigindo ainda mais estratégia e combinações diferentes.

Estamos falando de um game perfeito para você que tem jogado games medianos, repetitivos e quer explorar novos horizontes. Não poderia indicar outro jogo para isso senão Kunitsu-Gami: Path of the Goddess, principalmente se estou falando com alguém que gosta de desafios.

Pontos positivos

  • Originalidade e inspiração na cultura tradicional japonesa;
  • Boa dose de desafio e exige estratégia a todo momento;
  • Viciabilidade e rejogabilidade boas;
  • Vasta gama e opções de inimigos, habilidades, itens, NPCs;
  • Visuais incríveis e estilizados;
  • Mescla entre RTS, Ação e Tower Defense muito bem aplicada.

Pontos negativos

  • Trilha sonora morna na maior parte do jogo;
  • Ramificação das habilidades de Soh chega muito tarde;
  • Chefe final deixa a desejar.

Detalhes

  • Onde jogamos: Xbox Series S
  • Tempo de jogo: 30h44
  • Versão analisada: v1.1.1.0
  • Gamertag: Cavalheiro#1502

*Chave fornecida pela Capcom Brasil

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