Seguindo nossa maratona da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, conferimos a exibição dos primeiros episódios de Os Quatro da Candelária, nova minissérie brasileira da Netflix.
23 de julho de 1993
Na noite de 23 de julho de 1993, mais de quarenta pessoas dormiam nas escadarias da Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro. Dois carros com se aproximaram, levando os homens que atirariam contra aquelas pessoas. Oito jovens foram assassinados naquela noite, e muitos outros ficaram feridos, no que viria a ser conhecido como a Chacina da Candelária.
Os Quatro da Candelária foi idealizada por Luis Lomenha e Marcia Faria, e teve produção executiva de Fernando Meirelles. A minissérie se utilizada de quatro personagens principais, fictícios, criados a partir de uma longa pesquisa com sobreviventes do massacre e pessoas que conheciam as vítimas.
Ou seja, os quatro protagonistas nunca existiram, mas suas histórias, sim. A construção destes personagens, assim como os acontecimentos do roteiro, foi desenvolvida com o intuito de dar vida aos relatos da tragédia. Desta forma, busca homenagear as vítimas, mas sem expô-las; busca criticar o sistema, mas sem citar nomes. A realidade e a ficção, unidas em uma só obra, se complementando.
O que achamos de “Os Quatro da Candelária”?
A série começa promissora, apresentando seus protagonistas de forma bastante dinâmica, no decorrer das 36 horas que antecedem a chacina. Desde o começo, fica claro que cada episódio focará em um dos quatro personagens, de tal forma que, ao final, teremos todas as peças do quebra-cabeça.
O roteiro não tem medo de apresentar Douglas, Sete, Jesus e Pipoca de forma crua e sincera, gerando um choque de realidades. Os quatro amigos vivem uma vida em meio ao crime, sim, mas não por opção. Passado e presente se mesclam, enquanto somos convidados a entender o porquê dessas crianças terem entrado nessa vida.
Não tiveram qualquer opção, afinal. Cresceram em meio a dor e a solidão; não tiveram sequer oportunidade de aprender a melhorar – e os que tiveram, logo perderam. São crianças que sofreram nas mãos do sistema, que certamente falhou com elas; são crianças que não conhecem outra vida, senão essa; são crianças.
A abordagem na vida de cada um propõe um estudo de personagem profundo, fazendo com que conquistem a empatia do público. Por mais que tomem decisões erradas, o espectador ainda é convencido a torcer por eles, e compadecer de suas dores e sofrimentos.
Eu poderia citar muitos outros pontos positivos na série. Atuações, fotografia e trilha sonora, por exemplo, caminham de mãos dadas para construir sequências magníficas. Porém, o grande trunfo de Os Quatro da Candelária está em sua história comovente, tocante e referente a um marco histórico extremamente carente de ser relembrado e rediscutido.
Quatro crianças pretas, que vivem em situação de rua, caminhando rumo a chacina que marcou a história do país – uma delas, pelo menos. Afinal, não foi a primeira, e não será a última.