Como toda série longeva, Arrow ganhou fãs e haters ao longo de suas oito temporadas, que chegaram ao fim neste ano. E, com o lançamento do oitavo ano do programa na Netflix no dia 27 de outubro, está na hora de fazer um balanço final de sua passagem pela telinha. E eu já antecipo o veredito: podemos dizer com segurança que Arrow foi uma das estreias mais importantes para a DC nesta década.
Em seu ano de estreia, 2012, Arrow vinha para preencher a lacuna deixada por Smallville, outra série de longa duração, que começou como um sucesso estrondoso, mas acabou perdendo fãs ao longo do caminho e, na opinião de muitos, perdendo a mão. Até chegar ao fim com a cena que todo mundo queria ver: Clark Kent (Tom Welling, de Lúcifer) tirando seus óculos, abrindo a camisa e mostrando o famoso “S” sobre o uniforme azul.
Com isso, Oliver Queen (Stephen Amell, de Private Practice) foi à televisão em águas mais perigosas do que as de seu naufrágio. A alta carga dramática da premissa contrastava com o clima de novelão adolescente que permeava as tramas de Clark Kent e até destoava do próprio Arqueiro Verde, conhecido por seu bom humor nos gibis. Essa temática mais sóbria e adulta parecia também não combinar com o fato do herói aparecer uniformizado desde o início, indo por um caminho diferente da série do jovem Kent.
Outro ponto que poderia ser um triunfo ou fracasso seria o fato do personagem não ser estranho ao público. Afinal, sua versão interpretada por Justin Hartley (This is Us) teve um papel importante nas últimas temporadas do show sobre o jovem Superman. E, mesmo entre tantas incertezas, Arrow estreou no The CW.
Diferente a cada ano
Em seu primeiro ano, Arrow seguiu a premissa do herói sombrio. Oliver Queen se mostra mudado pela experiência de ficar cinco anos em uma ilha no mar da China e os flashbacks com o inferno vivido por ele lá corroboravam suas atitudes no presente. No entanto, vez ou outra ele era obrigado a encarnar novamente a figura do playboy rico e inconsequente para encobrir o implacável vigilante encapuzado.
Por implacável, entenda sedento por vingança com um arco e flechas afiadas, passando as noites caçando malfeitores em Starling City. Os alvos tinham nomes anotados numa lista entregue por seu pai, Robert (Jamey Sheridan, de Sully: O Herói do Rio Hudson), pouco antes de morrer e deixar o filho sozinho e náufrago. Sempre contando com a providencial ajuda do então segurança John Diggle (David Ramsey, de Blue Bloods).
Além disso, Oliver tentava descobrir os segredos da mãe, Moira (Susanna Thompson, de Arquivo Morto), impedia a irmã Thea (Willa Holland, de Gossip Girl) de cair de vez nas drogas e procurava se redimir de todos os erros cometidos em seu namoro com a advogada Laurel Lance (Katie Cassidy, de Melrose Place). E isso tudo só no primeiro ano.
Em sua segunda temporada, Arrow ficou ainda mais carregada no drama com as consequências do terremoto artificial na cidade, a volta de Sarah Lance, irmã de Laurel, amante de Oliver e agora a heroína Canário Negro. Entra também Roy Harper (Colton Haynes, de American Horror Story), o parceiro do Arqueiro Verde nas HQs com histórico delinquente e o codinome Arsenal.
Como se não isso bastasse, ainda tivemos Slade Wilson, o Exterminador (Manu Bennet, de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos), como vilão e a apresentação de Grant Gustin (Glee) como o policial forense Barry Allen, que estrelaria naquele ano o reboot do Flash na TV.
Nos dois anos seguintes, Poços de Lázaro e a ascensão de Malcolm Merlyn (John Barrowman, de Doctor Who) ao topo da galeria dos vilões importaram Ra’s al Ghul (Matt Nable, de Riddick 3) das histórias do Batman para atazanar a vida do Arqueiro e colocaram o programa nos caminhos do misticismo, que culminaram na sofrível quarta temporada, na qual Damien Darhk (Neal McDonough, de The 100) era o principal antagonista.
Série precursora
Apesar de seus muitos altos e baixos, Arrow foi extremamente divertida de se acompanhar ao longo de seus oito anos. Essa habilidade de aprender com os próprios erros e se reinventar a cada temporada fez com que o programa saísse de um drama mexicano para uma série de heróis na TV. E, sinceramente? Era exatamente disso que a DC precisava.
Afinal, com os filmes da Marvel fazendo história nos cinemas, não havia muito espaço para seres superpoderosos que preferissem um par de óculos e uma camisa xadrez ao invés de uma máscara e traje especial. Era o retorno das roupas coloridas, dos atos exagerados. Era a hora de salvar o mundo. Os super-heróis haviam finalmente retornado à telinha e o arqueiro encabeçava um panteão de personagens que vez ou outra dividiam suas aventuras, como nos quadrinhos. E, principalmente, todos com séries próprias onde poderiam trazer suas histórias ao público.
Devemos a Arrow não só The Flash, mas a inclusiva Supergirl, a hilária Legends of Tomorrow e a intrigante Batwoman. E mais recentemente, Titãs, que elevou a barra do gênero em uma produção adulta e melhorada a cada temporada.
Então, ainda que tenha errado feio em alguns arcos e até em mais de uma temporada inteira. Ainda que overdose de flashbacks trabalhassem contra a narrativa principal muitas vezes, é possível afirmar, sem exageros, que Arrow foi a série mais importante da década para o gênero de super-heróis.