O mundo mudou, e você precisa esquecer tudo o que sabe sobre o universo Marvel nas HQs. Num futuro distópico, a guerra entre o bem e o mal finalmente terminou, mas isso é o pior que poderia ocorrer a quem sobreviveu. Esta é a proposta da saga intitulada O Velho Logan (Old Man Logan, título original), roteirizada por Mark Millar e ilustrada por Steve McNiven (dupla que assina Guerra Civil) e publicada de 2008 a 2009, entre as edições #66 e #72 da revista Wolverine (volume 3) e no especial Wolverine: Giant Size Old Man Logan. E o princípio de um verdadeiro clássico!
Situada em 50 anos no futuro, a trama mostra o que acontece quando todos os supervilões juntam forças em um plano supremo para derrotar seus arqui-inimigos, isto é, os super-heróis. Em uma América dividida em territórios dominados pelos piores antagonistas dos quadrinhos, a humanidade deve apenas sobreviver obedecendo aos desígnios de seus senhores feudais, uma vez que não restaram fantasiados a se impor para defender a paz e a justiça. Wolverine é um dos poucos que sobraram, porém, embora seu corpo viva, suas habilidades não são as mesmas e seu espírito está quebrado.
Vivendo em algum lugar em Sacramento, na Califórnia, o antigo X-Man cujo nome de batismo é James Howlett renunciou à violência e passou a viver como um simples fazendeiro junto de sua família, composta pela esposa Maurren, o seu filho Scotty e a caçula Jade. Um velho preocupado somente em levar sustento para casa e pagar o aluguel, Logan se vê em apuros quando a Gangue Hulk (formada por descendentes de Bruce Banner e gerida pelo próprio ex-vingador) bate à sua porta para cobrar e ele não tem como pagar, o que coloca sua família na mira dos valentões verdes.
Para conseguir grana para saldar sua dívida, Wolverine aceita fazer um trabalhinho suspeito com o amigo Clint Barton, o agora cego Gavião Arqueiro. Parceiros improváveis, os veteranos decadentes devem cruzar o país para realizar uma entrega de mercadorias na região chamada de Nova Babilônia. A bordo do Aranhamóvel, Clint conta com Logan para atravessar os perigos dos domínios de Hulk (vulga Hulklândia), Rei do Crime, as Terras do (Doutor) Destino e o Quadrante do Presidente (no caso, o Caveira Vermelha), sem saber que o mutuna virou pacifista…
Inspirado em filmes como Os Imperdoáveis, A Estrada e na franquia Mad Max, o arco desbrava um mundo desolado, repleto de cenários desérticos e “monumentos” chocantes para os fãs dos Super-Heróis Mais Poderosos da Terra – como a Queda do Martelo, onde Thor pereceu diante de Magneto e Homem-Absorvente. Além disso, no enredo imaginado por Mark Millar, tudo o que havia de heroico acabou sendo corrompido por uma realidade sem esperanças, incluindo as linhagens de Peter Parker e do Motoqueiro Fantasma.
Beirando a perfeição, O Velho Logan impressiona pela ousadia de transportar um dos mais icônicos personagens da Marvel para um contexto inesperado, com aspecto de faroeste, e inspira por contar a história de um homem que, mesmo tendo vivido todas as desgraças do mundo, ainda não consegue ficar parado em frente a uma injustiça. Brutal, adulta e emocionalmente pesada, a minissérie mantém os pés no chão ao mesmo tempo em que vislumbra o futuro, recorre a mitologia da Marvel de forma arrojada e entrega um final digno daquele que já foi conhecido como Arma X.
Com roteiro muito bem amarrado e uma arte belíssima que transmite a visceralidade da trama, O Velho Logan é uma autêntica aventura do Wolverine e uma leitura indispensável.