“Vidas Passadas” é sobre destino e reencontros

Festival do Rio: Vidas Passadas é sobre destino e despedidas
California Filmes

“E se…” é uma proposta interessante. É fácil nos perdermos num infinito de realidades alternativas, histórias diferentes e cenários imaginados quando seguimos essa linha de pensamentos. Em Vidas Passadas (Past Lives, 2023), ambos os homens na vida de Nora Moon (interpretada por Greta Lee, de “The Morning Show”) consideram essa questão. O filme, produzido pela A24 e com distribuição da Califórnia Filmes no Brasil, tem sua estreia nacional marcada para 15 de fevereiro de 2024. Dirigido por Celine Song, uma roteirista e diretora sul-coreana/canadense conhecida pela série A Roda do Tempo, o filme estreou no Festival de Sundance deste ano e narra uma história de despedidas e reencontros entre Coreia do Sul, Canadá e Nova York.

A narrativa de “Vidas Passadas” é dividida em intervalos de 12 anos na vida de Na Young, que depois passa a ser Nora, e de Hae Sung (Teo Yoo), seu melhor amigo da infância. Sung fantasia sobre o que teria acontecido se ela não tivesse deixado a Coreia do Sul quando eles tinham 12 anos, ou se ele tivesse ido a Nova York para reencontrá-la aos 24. Uma das primeiras cenas do filme mostra a garota chorando enquanto anda com seu amigo pelos becos coreanos. O choro da criança parece estar relacionado a uma competição entre a menina e o menino para conquistar o primeiro lugar nas atividades escolares. No entanto, desde o início, é revelado que Na Young está prestes a se mudar para o Canadá.

Desde os primeiros minutos, o filme nos envolve de forma íntima na vida dos personagens, graças à direção habilidosa de Celine. Algo que é muito presente na narrativa de Vidas Passadas é o embate entre passado, presente e futuro. Nora é uma mulher globalizada, por assim dizer, e sua vida atual gira em torno dela mesma e de seus planos para o futuro, algo que raramente é permitido a uma mulher coreana.

Trailer

É o destino?

Há um termo em evidência durante todo o filme: In-yun, que nas palavras de Nora, significa algo como o destino. O sentido do termo é bastante bonito e romântico, se relacionando com as vidas passadas. A protagonista chega até a brincar em certo momento, durante o flerte com Arthur (John Magaro), seu futuro marido, sobre como os coreanos só falam sobre “In-yun” quando estão tentando seduzir alguém, desviando o assunto como se o termo não funcionasse com alguém de “fora”. Arthur reflete sobre como, se outro escritor tivesse conhecido Nora na residência artística onde eles se apaixonaram, ela poderia estar com ele agora.

Após 12 anos do “reencontro” virtual dos amigos, a visita de Hae Sung a Nova Iorque é aguardada com tranquilidade por Nora e seu marido, que entendem a situação. O momento do reencontro é uma cena marcante no filme, pois é quando testemunhamos o choque entre esses dois personagens que, apesar de compartilharem nacionalidade e uma infância juntos, se tornaram tão diferentes ao longo do tempo que quase parecem desconhecidos, embora sejam velhos conhecidos que sentem saudades um do outro.

Comédia romântica e nostalgia

Quando Nora abraça Hae Sung e ele não sabe como reagir, percebemos que os caminhos que ambos seguiram são irreversíveis. É a primeira vez que os vemos juntos no mesmo ambiente, e a química entre Greta Lee e Teo Yoo é muito agradável de assistir. Embora esses personagens possam sentir algum desconforto devido aos anos de separação, eles preenchem seus diálogos com todas as lembranças de infância que os acompanharam ao longo dos últimos vinte e tantos anos. É quase impossível para quem está assistindo não torcer por esse casal.

No segundo ato, que é o menos enérgico de “Past Lives”, a narrativa se alimenta da comédia romântica e da nostalgia que Song, e qualquer pessoa familiarizada com a internet daquela época, sente ao assistir às conversas meio constrangedoras pelo Skype. A alegria dessa segunda chance é permeada pela tristeza da distância, e eventualmente, Nora começa a perceber que a empolgação de falar com Hae Sung novamente cede lugar à crescente certeza de que será necessário fechar uma porta para abrir outra.

Um filme sobre despedidas

Os aspectos técnicos do filme são impecáveis, começando com a trilha sonora de Christopher Bear e Daniel Rossen, que guia os espectadores ao longo da jornada dos personagens com uma variedade de tons, alternando entre leves, melancólicos e, por vezes, apaixonantes. Vale a pena destacar o tema original “Quiet Eyes”, interpretado pela cantora Sharon Van Etten.

À medida que se aproxima dos minutos finais, “Vidas Passadas” nos reserva uma cena desconfortável com o encontro de Nora, Hae Sung e Arthur. Enquanto bebem em um bar, Arthur se sente deslocado enquanto Nora e Hae Sung conversam em coreano. Isso é algo que ele não pode tocar, apesar de ter aprendido a língua completamente. Como ele menciona, há um lugar dentro de sua esposa que ele nunca poderá acessar, não importa o que aconteça.

Neste terceiro ato, todos os temas de “Past Lives” se encaixam. Os objetivos da diretora Song ganham destaque, e junto com as vistas deslumbrantes da grande cidade e as conversas silenciosamente intensas entre os personagens, gradualmente percebemos que este filme trata mais sobre quem Nora é e como cada homem representa uma faceta de sua personalidade do que sobre com quem ela vai terminar. Embora você possa se perguntar com quem ela ficará, fica rapidamente claro que há apenas uma resposta, e “Past Lives” transforma essa curiosidade em uma profunda reflexão sobre identidade.

Veredito

“Vidas Passadas” é, de fato, um filme sobre despedidas, como evidenciado pelo caminho percorrido pelos personagens, que se esforçam ao máximo apenas para eventualmente dizer adeus. Ao longo desses períodos, a diretora Song nos leva de volta ao passado com imagens recorrentes e reencontros emocionais. Juntos, esses elementos formam um dos filmes mais emocionantes do ano. Não existe uma maneira certa de dizer adeus, mas, às vezes, o adeus é tudo o que se pode ter de alguém.

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